A politização de tudo

 

As pessoas que não têm formação intelectual suficiente para alcançar o patamar do conhecimento objetivo julgam tudo o que dizemos como expressões do nosso estado subjetivo, das nossas emoções, dos nossos gostos e preferências. O que afirmamos na clave do ser e do não-ser, do verdadeiro e do falso, elas ouvem na do “gosto” e “não gosto”, da afeição e da repulsa, do simpático e do antipático. Pior ainda: associam esse gostar e não gostar aos chavões publicitários e às preferências estereotípicas de algum grupo ou partido religioso ou político, do qual então nos fazem membros, simpatizantes ou porta-vozes.

Se digo, por exemplo, que os militares no governo foram mais honestos que os políticos que vieram depois – um fato jamais contestado –, entendem que estou “a favor” do regime militar. Se digo que os militares foram negligentes na guerra cultural, entendem que sou “contra” aquele regime.

Não entendem nem mesmo que nenhum intelectual sério toma partido a favor ou contra coisas que nem existem mais.

O resultado dessa percepção deformada é que toda discussão séria, amparada na realidade e no teste da experiência, se torna impossível e é substituída pelo confronto estéril de “posições”. Carl Schmitt definia a política como aquele setor da atividade humana no qual não sabe nenhuma arbitragem racional das opiniões, só restando contar o número de votos, de armas e de cadáveres dos dois lados.

A incapacidade intelectual é a raiz da politização integral da vida humana.