Mais um bocó me passando pito

O analfabetismo funcional endêmico é a causa de todos os males do Brasil. Nas suas formas mais brandas – mas nem por isso menos danosas –, ele se manifesta pela ausência de todo senso literário no uso da linguagem, isto é, pela incapacidade de perceber as nuances de significado nas palavras, os graus de credibilidade nos discursos e a hierarquia dos fatores de prova nas demonstrações. Assim, por exemplo, o analfabeto funcional, ao encontrar alguma imprecisão factual num arrazoado, será incapaz de discernir se ela afeta ou não a validade do argumento principal. Muito menos distinguirá entre erros substanciais e a mera formulação imprópria de um argumento. Apegando-se ao detalhe que lhe chamou a atenção, deixará de lado a questão essencial e criará o seu próprio cirquinho, onde, como uma criança, exibirá habilidades totalmente inúteis e alheias ao problema em discussão.

O melhor seria que esse tipo de deficiente JAMAIS fosse admitido em qualquer discussão pública, na qual sua participação só ser um fator de confusão e desorientação.

Um exemplo disso é o teólogo Francisco Tourinho, que, na ânsia de demolir os “erros do Olavo de Carvalho” mediante um showzinho de erudição bíblica, vai parar longe do objeto da sua crítica e terçar armas com um fantasma da sua própria invenção, ao qual chama “Olavo de Carvalho”.

Confesso que fui em parte culpado pelo vexame em que, involuntariamente, enredei o infeliz teólogo, ao falar de assuntos complexos numa linguagem um tanto relaxada e alusiva, sem dar ao seu pobre cérebro as explicações detalhadas e literais sem as quais um analfabeto funcional não pode chegar a compreender absolutamente nada.

Ao dizer que “Lutero, Calvino e seus seguidores reduziram esse ato (a comunhão) a um simples ‘memorial’, esvaziando-o da sua eficácia ritual no presente e negando a transformação real das duas substâncias”, não imaginei, imprudente que sou, que alguém pudesse ser burro ao ponto de confundir a questão da “eficácia ritual no presente” com a da PRESENÇA real de Cristo no pão e no vinho.

O sr. Tourinho, que quanto mais estuda menos entende, achou que me desmentia triunfalmente ao dizer, aliás com razão, que Lutero acreditava piamente nessa presença real. Sim, Lutero acreditava nela, mas negava a transubstanciação, a transmutação material e física, o milagre efetuado, de novo de novo, no instante da consagração, que é como o entendem os católicos. Sem esse milagre, seria inexplicável o fenômeno das hóstias que sangram e do sangue VIVO que nelas lateja, milagre infindavelmente repetido e confirmado por análises clínicas (v.https://www.youtube.com/watch?v=V1Fd6W06Mos).

Para Lutero, o pão e o vinho continuavam sendo apenas pão e vinho, e Cristo “entrava” neles não se sabe como. Mais ainda, a Eucaristia não tinha nenhum poder salvador, sendo apenas um sinal externo de uma salvação já dada anteriormente por predestinação.

Que é isso, senão negar a eficácia atual e presente do rito, reduzindo-o a um lembrete de que o sr. Fulano ou Beltrano é um predestinado?

Calvino, com maior audácia e superior coerência lógica, tirava disso a consequência que Lutero não ousara tirar, proclamando na Confissão de Fé de Westminster: “não estando o corpo e o sangue de Cristo, corporal ou carnalmente nos elementos pão e vinho, nem com eles ou sob eles, mas espiritual e realmente presentesà fé dos crentes”.

         Dito de outro modo, não havia, materialmente, milagre nenhum. A presença de Cristo dependia da “fé” dos crentes, realizando-se ou não conforme estes acreditassem ou não que se realizava.

O sr. Tourinho confirma isso ao dizer: “O Sacramento é um meio de aperfeiçoar a salvação, não de ganhá-la. Se o professor Olavo estiver certo, um pagão ao entrar na Igreja e comungar, já estaria salvo porque estaria se alimentando do corpo de Cristo, o que é um absurdo.”

O que ele está afirmando, embora ele próprio não o perceba, é que, sem a fé, o corpo e o sangue de Cristo NÃO ESTÃO no pão e no vinho. Se fosse assim, comer o primeiro e beber o segundo seriam atos inócuos como tomar o café da manhã, e não se vê como poderiam ser punidos com as penas do inferno, como Nosso Senhor afirmou explicitamente que seriam. O castigo só se justifica porque o pagão comungante não consumiu apenas pão e vinho, mas, sem mérito nem fé, alimentou-se do corpo real e do sangue real de Jesus, cometendo duplo sacrilégio.

Esse sujeito não entende o que ele próprio escreve.