Não deveria ser preciso explicar isto

Profissões intelectuais de alta responsabilidade, na ciência, na religião, na historiografia ou nas ciências sociais, exigem habilidades especiais de leitura que estão formidavelmente acima das possibilidades do leitor comum, mesmo  são de cabeça e portador de um diploma universitário.

No Brasil o máximo que os profissionais dessas áreas conseguem fazer é compreender frases ou parágrafos isolados e costurá-los numa unidade superior que eles próprios inventaram segundo suas crenças e preferências, e que eles acreditam piamente ser o “sentido” do texto.

A unidade profunda, real, do próprio texto lhes escapa por completo, e mais inapreensível ainda é para eles o nexo entre o texto e a compreensão que o próprio autor lhe deu na vida real. A ligação entre a estrutura real do texto e o curso da vida histórica, então, não apenas lhes escapa ainda mais completamente, mas de fato eles nem imaginam que ela possa existir.

O sujeito que, sem ter um domínio suficiente do seu próprio idioma enquanto instrumento da arte literária superior, se aventure a estudar línguas estrangeiras ou antigas ou a adquirir o vocabulário técnico de uma ciência qualquer, conseguirá aliar, à total incompreensão do que lê, um falso senso de segurança fundado na certeza da própria erudição.

NÃO HÁ CULTURA SUPERIOR sem o cultivo literário prévio do próprio idioma nativo.