O carro puxando os bois

 

 

 

Qualquer campanha de correção de um problema social tem de começar pela documentação e discussão do problema nas esferas intelectuais mais altas e de mais idônea reputação, para só depois, aos poucos, despertar polêmicas em círculos mais amplos e esperar que propostas de solução, diversas e espontâneas, vão aparecendo na sociedade.

Invertendo radicalmente esse processo lógico e natural, aparecendo já com um slogan e uma proposta — e, pior ainda, com um projeto de lei –, antes mesmo de que existisse um só livro com a documentação canônica do problema –, o Escola Sem Partido tornou-se ele próprio o foco das discussões, colocando num confortável segundo plano o problema enquanto tal e atraindo sobre si toda sorte de malentendidos e preconceitos.

Imaginem o que teria acontecido se, em vez de escrever “O Imbecil Coletivo” e mais mil e um artigos documentando ao longo de vinte anos a destruição da alta cultura no país, eu tivesse começado por lançar um projeto de lei instigando o público a denunciar e punir os intelectuais ineptos. Não que estes não merecessem umas boas chineladas na bunda. Mas, em vez da destruição da alta cultura, o foco da discussão seria o perigo dos chinelos.