Zelotes e fariseus – 1

Não é de hoje que, no Brasil, a superioridade intelectual expõe o seu portador a rajadas de ódio invejoso que o matariam se pudessem, mas que, não o podendo, se empenham ao menos em deprimi-lo, em tirar-lhe o gosto de viver, de criar e de ensinar.
O fenômeno, que faz do Brasil a sociedade antropofágica por excelência, faminta dos cadáveres dos melhores, já foi tão abundantemente documentado na nossa literatura que me dispensa de repetir o que já foi tão brilhantemente exposto por Machado de Assis, Lima Barreto, Oswald de Andrade, Orígenes Lessa, Octávio de Faria, Graciliano Ramos, Gilberto Freyre e tantos outros.
A novidade é que, nas últimas décadas, esse canibalismo moral passou a ser exercido sob pretextos religiosos, os mais doces e sublimes que se pode imaginar. O ignorante presunçoso, ávido de subsídios, em quem a malícia mais vulgar devorou e substituiu definitivamente a inteligência, é celebrado como o “pequenino” de que fala a Bíblia, ao qual Deus revelou o que esconde dos doutores, enquanto qualquer esforço intelectual sério é estigmatizado como desvio herético pelo simples fato de não se curvar às instruções de pastores ladrões ou bispos pedófilos.