Recordando

Escrevi anos atrás (bem lembrado pelo Everson da Cunha):

 

QUEM fez com que um menino doentio, quase moribundo, durasse até tornar-se um velho forte e saudável, capaz de continuar seu trabalho até não se sabe quando?
QUEM deu a esse menino, depois de crescido e pai de vários filhos, ainda doente e carregado de obrigações e dívidas, a energia de estudar dia e noite nos intervalos de vários empregos simultâneos, lendo em ônibus, no metrô , em bancos de jardim e balcões de bares, guardando tudo na memória sem usar nenhuma técnica mnemônica?
QUEM lhe deu o impulso de continuar fazendo isso sem jamais ter recebido do ambiente em torno O MENOR estímulo intelectual?
QUEM deu a um zé-mané sem estudos regulares, sem um diploma de ginásio sequer, os meios de tornar-se um erudito reconhecido por dezenas de intelectuais do país e do exterior e de no fim das contas consagrar-se como a maior ou única autoridade intelectual num país de duzentos milhões de habitantes?
QUEM espalhou entre centenas de inimigos dele uma tal confusão mental que não podem escrever três palavras contra ele sem cair nas contradições mais grotescas e desmoralizar-se sem que ele nem precise lhes responder nada?
QUEM fez com que, sem um único centímetro de espaço na grande mídia e sem qualquer badalação nos jornais e na TV, a sua voz se tornasse tão influente ao ponto de ecoar nas ruas e nas praças em grandes manifestações populares?
QUEM fez com que, sem nunca ter ligado a mínima para a moral e a virtude, ele se tornasse capaz de explicar as palavras de Jesus a padres, bispos e pastores com tal simplicidade e poder de persuasão que, quando eles não gostam do que ele diz, só lhes resta amaldiçoá-lo à distância e fazer de si mesmos objeto de chacota?
QUEM fez com que, sem uma notinha num jornal, sem dois segundos de promoção na TV, seus livros alcançassem tiragens de centenas de milhares de cópias, superando de longe os de seus concorrentes mais badalados pela mídia e pelo “establishment”?
QUEM possibilitou que ele, praticamente ou literalmente sozinho, cavasse um rombo enorme numa hegemonia intelectual de cinco décadas, abrindo espaço para a circulação de novas idéias que até então eram absolutamente inaudíveis no espaço público?
QUEM fez tudo isso? Se não foi Deus, eu é que não fui. Minha vida é uma sucessão tão evidente de milagres e prodígios, que quem quer que a contemple por minutos e não exclame “Glória a Deus!” é uma alma empedernida, cega e insensível a uma Presença divina que grita do alto dos telhados.
Por isso é que rio por dentro quando, afetando desprezo pela alta cultura, umas baratas de sacristia vêm me falar dos homens pobres, simples e humildezinhos a quem Deus revela o que sonega aos doutores.
Eu SEI que Deus faz isso. Ele fez comigo.